quinta-feira, 16 de maio de 2013

Nunca mais

Nunca mais te escrevi. Nem sei já rabiscar, já não sei que pensar. Ainda não acordei e já nem sei falar.
Os dias vão-se contando, chuviscando rabiscos pelas paredes desertas da casa sombria, os momentos vão-me esmiuçando os sonhos condenados à triste aguarela que ainda seguras em teus braços. Podias ter salvo muito mais que esse esboço de perfeição, uma velha aguarela esbatida do cansaço dos anos. Deixaste para trás os sonhos que construímos e as paredes que erguemos, tudo por um pedaço de nada, amarelado do fadiga dos sois que a vão matando e a nós também. Nosso fim?
E jamais mais te rabisquei, desde então, já nem sei escrever.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Corres parado

Se corres e ficas parado, os teus medos não se dissipam... se vives, mas sentes-te morto e o teu corpo já não aguenta... não se consegue erguer e quanto mais relaxas, mais vazio ficas, mais choro deglutes, mais te debates com os odores de um final esquisito e esquecido.
Os olhos já se cansaram de tanto piscar sentimentos e os sons já não são memórias boas... estás de costas voltadas, mas o mundo não para. A esfera não espera por ti, já ninguém acredita em ti, não te sentes amado, como antes.
Os olhos enxaguam-se e ninguém tos vai limpar. És um descrédito, não tens ambições, róis-te infeliz, aos gostos alheios... procuras-te e não te encontras e quando tentas respirar tapam-te os olfatos, magoam-te sem saber que choras, tu também choras, a ti também te doí.
Vives fingindo de vivo, quando estás jazendo, construindo um nada. Vives num vazio esquecido e cinzento. Corres parado contra o tempo. A cidade já não chora por ti, a tua alma penetra o céu adentro... o negro invade-te o olhar... já não custa.
É o fim.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ai quem me dera

Quem me dera ter calma
acalmar os céus e os meus pesadelos...
Quem me dera ter tempo
para voar e descobrir,
mil sonhos e viver...


Os passos vão-se aproximando e os odores não enganam, entristece-me ser em outro lugar... Queria ser aquilo que tu queres, sem perder de vista o mar e os olhos alcançarem os gestos do sorriso da paixão.
Quem me dera ser outro ser, viver para lá de mim e subir... Esperar por ti, lá no alto... sem a preocupação de uma vida atribulada... um absurdo de ideias invade-me os gostos e penso em ti.
Quem sou eu para ti? Um punhado de gestos fatigados de tanta repetição e ideias de pessoa mal gastas na razão de viver... um amorfo transeunte que se arrasta numa multidão esquecida, de gente amargurada pelos gostos pálidos de um monstro já velho... um pesadelo repensado e petrificado no átrio da morte. A ode esquecida rebenta-se em agonia e os pretéritos incompreensíveis consomem-nos os gostos...
Quem sou eu? Eu apenas sou eu, sou gosto de ti.

domingo, 25 de março de 2012

Caos de ideias

Com receio de respirar, encostei-me às correntes de vida que gritavam teu menino jeito de ser. Abracei teus sonhos, envolto em utopias e fantasia, sinestesia de pensamentos vagos em torno do meu amor, e os gostos esquecidos, vislumbrados ao longe, correndo meus mistérios esquecidos, recordando imagens vazias e os toques e os meneios e os gestos… os gestos e abandonados à magia de teus palavras. Paladar de meus esquissos, traçados a pincel, escopro e cinzel, mordidos por um odor paradisíaco.
Amargo e aborrecido, me repasto num soalho esquecido pelo pó e correndo parado, penso o esquecimento do que já não é, do que já não somos, do que nunca fomos. Abandono-me nos ventos polares, acorrentado aos meus medos, caio-me em pesadelos perdidos, por sonos já esquecidos, bafejando as velhas janelas, esculpindo segredos já gastos… um sótão disperso, num final remoto, o ranger de meu olhar, consome-me em goteiras infinitas… e o fim tão próximo que já o cheiro e mais um passo e tudo se desmorona num caos de ideias, espraiadas e expatriadas e exiladas e isoladas, em mim… e eu já cadáver, choro-me, arrefeço o soalho. Sou mais um tato de pó em busca da luz, seguindo os sonhos de outrem, morro-me sozinho.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Tons de negro

As consequências de quem se joga e não sabe ganhar. Não lido bem com esta situação. Não sei como jogar, estou perdido, encontro-me descrente. Fácil e difícil, em tons de cinzento fechado, escuro, como um vibrante céu de tempestade… sem rumo, sem calor… longe e triste. Abandonado à sorte de uma roda inquieta, de um sonho que nunca tive. Perdido, desencontrado com a vida. Em tons de negro, borro os odores com sabores amargos… Sem final feliz consomo os meus últimos suspiro de dor. E as lágrimas catapultam os sentimentos perdidos… desperdiçando cada segundo, parado com olhar inconclusivo… esquecido do mundo, acampado às quimeras do além.
Sei o que não descobri, gracejo os dotes de um sonho que já não vivo e derrubo mais um gotejar, despegando-se um rosto amargurado, empobrecido, esquecido, enegrecido, amorfo, morto.
E neste último segundo, encosto-me aos pensamentos, regurgitando ideias vagas… o concreto absurdo ou o perfeito ideal… procuro a solução no fim das linhas… no fim da minha linha… será que valerá a pena continuar, esquecido, são imensos os testes que a vida nos coloca e a solução está ali tão perto, tão simples… quebro-me em mil, coloco-me no cheiro do desaparecimento… questionando-me… degolando-me, afundando-me em sentimentos errantes…
Parte de mim já foi… estará o resto para breve?
Quem sou eu afinal?